VANDALISMO E BLACK BLOC

Separar o joio do trigo sempre foi difícil, mas às vezes essa separação é intencionalmente descartada. A imprensa e, pasmem, mesmo muitos professores e "pessoas de bem" vêm tratando as ações dos Black Blocs como vandalismo, como atos de baderneiros financiados por aqueles que querem minar a força dos protestos populares.
Isso é desconhecer a história dos Black Blocs, ligada a um anarquismo nada utópico, e que sempre busca lutar para que o povo possa ter poder de fato, na linha de Proudhon, que em sua obra clássica, O que é a propriedade?, defende uma sociedade "sans maître ni souverain". Ora, uma sociedade "sem mestre nem soberano" só vai existir quando conseguirmos votar diretamente as leis, quando nossos representantes não puderem fazer senão o que o povo mandar que eles façam.
Os Black Blocs destroem caixas eletrônicos e outros símbolos da exploração humana, uma exploração que é consequência da corrupção endêmica de um sistema que não nos representa.
Evidentemente, num movimento popular de grande monta essa configuração é atrapalhada pela infiltração de gente que nada tem de black bloc, e que se fantasia de integrante para pilhar e confundir a população, com intenções diversas, desde o simples saque até a desqualificação dos movimentos sociais, a serviço da manutenção do status quo.
Os Black Blocs são em geral jovens, de muita coragem, que tentam reverter um quadro extremamente desfavorável para o povo nas relações políticas: a falta de representatividade de nossos governantes.
Gandhi conseguiu pacificamente a independência da Índia, mas jamais teria conseguido fazer a Revolução Francesa. E não nos esqueçamos de que a Índia continua a ser um país tão desigual depois de Gandhi quanto o era sob o domínio da Inglaterra. Por outro lado, as relações sociais (e de poder) no mundo inteiro transformaram-se, democratizaram-se, depois de Marat e da queda da Bastilha. Não tentem os velhos enganar nossos jovens, pois é neles que está a esperança de um mundo melhor.
Criminosos não são os que quebram caixas eletrônicos, e sim aqueles que com o voto da população fazem as leis a favor dos grupos que são donos dos caixas eletrônicos. Criminosos são aqueles que deixam a população na ignorância e na miséria.
É muito triste ver que professores (?) e intelectuais (?) vêm atendendo ao chamado da grande mídia, e aceitando chamar os Black Blocs de vândalos. Mas isso dá a dimensão do caos em que anda o nosso sistema educacional.

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OLHA A FALTA DE RESPEITO !!!


Todos os que têm hoje mais de trinta anos aprenderam a respeitar os pais, a aceitar as limitações que seus pais lhes impunham, e a reclamar apenas entre si das injustiças recebidas desses mesmos pais ou de seus professores, em casa ou na escola. São, ainda hoje, poderíamos chamar, as GERAÇÕES DO RESPEITO. 
A garotada de hoje, as chamadas gerações X, Y e Z, devem ser muito mais observadas, bem além de ter o simples nascimento associado aos avanços das novas tecnologias digitais. Na verdade, são jovens que reclamam de qualquer coisa de que não gostam. Não reclamam DOS pais, como os mais velhos, e sim reclamam diretamente PARA os pais, para os professores, para o diretor, ou para qualquer outro, sem respeitar hierarquias.
São inconformados com o que consideram injustiça, em todos os níveis, e vão para a rua com a mesma facilidade com que são mandados para fora de sala nas escolas. São eles que se comunicam entre si o tempo todo, e são eles que estão mudando o mundo, exigindo maior participação nas decisões do país, DIRETAMENTE das ruas. Eles realmente NÃO TÊM RESPEITO por nada: nem pelos pais, nem pelos professores, nem pela polícia, nem pelos poderes constituídos, sejam governantes, deputados ou senadores.
E isso, sim, é algo novo no cenário político mundial.
As "gerações do respeito" vão alegar que fizeram o movimento estudantil de 68, que combateram a ditadura, que têm consciência política, que disseram que era proibido proibir. Mas aquilo tudo ainda era construído a partir de lideranças políticas, ao sabor das leituras do momento, de Marx a Foucault. 
Os estudantes franceses que se revoltaram recentemente contra as reformas de Sarkozy, os que quebraram lojas e viraram carros, não eram seguidores de ninguém, e sim leitores de memes trocados entre suas troupes. 
Há algo de novo no reino da Dinamarca, e que de podre não tem nada.

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