Autorretrato (Artemisia Gentileschi) |
Susana e os anciãos (Artemisia) |
Neste milênio, com a era digital, a democracia representativa perdeu o sentido e é mantida apenas por interessar a grandes grupos econômicos que por meio dela, por lobbies e por corrupção, legislam e julgam de acordo com seus interesses. Com a facilidade que temos hoje de dar nosso voto até num simples site, fica evidente que a democracia direta acabará se impondo, no mundo inteiro. É só uma questão de tempo.
Autorretrato (Artemisia Gentileschi) |
Susana e os anciãos (Artemisia) |
Franz Hals, O flautista (Louvre) |
E isso realmente vai acontecer. Até a chegada das vacinas, isso vai acontecer. Mas, sejamos realistas, é só até lá. Depois de vacinados todos (e a fila é longa), leva apenas um ou dois meses para até os mais desconfiados perceberem que só eles estão de máscara na rua.
Somos assim, tudo é definitivo até passar e deixar de ser.
A poesia, como a bater papo conosco, sempre nos lembrou disso. De Vinícius a Legião, o amor deve ser eterno enquanto dure e que se ame como se não houvesse amanhã. É sobre o amor, mas a arte deu o seu recado.
Franz Hals! Ninguém representou melhor a eternização do instante do que Franz Hals, pintor da era de ouro da escola holandesa, no século XVII. Seguidamente endividado, volta e meia vivia angústia terrível, até que aparecia algum nobre em seu socorro, sempre "pela última vez". Alegre, feliz, de novo com sua situação "definitivamente" resolvida, Hals voltava a pintar. Sua vida se refletia em suas obras: alguns retratos, por encomenda, eram pintados como figuras estáticas, estáveis. Já todos os demais eram flagrados em plena ação, retratados no momento, no instante eternizado. Era como ele vivia. E é como a maioria de nós vive, como ciganos. O que importa é a próxima dança. E isso é bom, é vida. Mas, em alguns casos, o preço é alto.
Franz Hals, Cigana (Louvre)
Os ciganos, quando o ambiente não é bom, mudam-se para outro lugar. Não podemos ser ciganos o tempo todo. A humanidade é apenas uma, ciganos e não ciganos. E todos só temos este planeta para habitar.
Não vemos além do momento atual. Nosso alcance vai até ali, o tal palmo adiante do nariz, a pandemia, que é provisória. O desastre maior, definitivo e fatal, bate à porta e fingimos não ver. A cada gripe suína, aviária, Influenza tipo A, Vaca Louca, Ebola, Sars, Mers, H1N1, Zika, culpamos a causa imediata, a globalização, com seu comércio e deslocamentos, os hábitos alimentares, a China, a África, o macaco, o morcego.
Enfim, olhamos para cada caso em particular como se fossem causas isoladas. Ignoramos as denúncias da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD), chamamos todos de comunistas e continuamos a destruir os ecossistemas originais para atender às necessidades sempre crescentes do mercado.
Não vai ter novo normal. Basta observar as aglomerações não só no Brasil e nos Estados Unidos, mas também em governos sérios como França e Alemanha. Em todo o mundo, a paciência se esgota dia a dia. Sim, a mudança de hábitos vai acontecer, mas noutra direção: aprendemos a usar mais os recursos da era digital que já estavam aí. Foi um bom treinamento. Só isso vai mudar.
É claro que o Covid-19 vai passar e todos vão tirar as máscaras.
Mas, sejamos lúcidos: na sequência de Sars, Zika, Mers, H1H1, e Covid vão chegar os próximos vírus e afins, e é óbvio que algum deles será ainda mais letal.
E talvez não saia com água e sabão.
A vida não é senão uma longa perda daqueles que amamos (Victor Hugo) |
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Cupido com bolha de sabão, 1634 Rembrandt |
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Darcy Ribeiro em 1982: Ou fazemos escolas ou construiremos presídios |
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