Em maio de 1894, o capitão do exército francês, Alfred Dreyfus, foi acusado de vender um “bordereau” com informações secretas aos alemães. Era judeu e um amplo apoio da imprensa fez crescer a onda nacionalista francesa, militarista, que acabou por condená-lo à prisão perpétua.
Três anos depois, Charles Esterhazy, um outro oficial francês, foi descoberto como o verdadeiro culpado. Ainda assim, Dreyfus só foi reabilitado para as forças armadas em 1906.
A culpa ou não de Dreyfus era absolutamente secundária, naquela passagem de século. O jogo de poder precisava acirrar o nacionalismo e apontar inimigos visíveis. Era preciso deixar todos discutindo a traição ou não do judeu, enquanto as forças econômicas da França se preparavam para reagir no campo de guerra à ascensão industrial da Alemanha, materializada na batalha de Sedan. Era o 1914 já em andamento.
Uma falácia de desvio? Claro. Como sempre.
Aqui também, no Brasil, as forças econômicas se aproveitam da ignorância de uma nação inteira para tratar a todos como gado. Sempre fez assim.
O próximo presidente da república irá governar como? Criando uma outra espécie de mensalão ou pondo nos ministérios deputados corruptos e defensores dos lobbies que os elegeram?
Pouco importa quem será esse próximo presidente da república. Os diversos segmentos econômicos a essa altura já se movimentaram para compor o novo congresso. Há gente que pensa que Fernando Collor caiu porque era ladrão. Embora ele seja. Dilma Rousseff caiu porque fraudou o orçamento. A Páscoa vem aí e existe o coelhinho.
Na França, as eleições presidenciais precedem as da formação do congresso em três meses. Força o eleitor a se concentrar no legislativo. Numa pesquisa do jornal Le Point, de 2017, ano de eleições lá, 75% dos franceses responderam serem as escolhas legislativas mais importantes do que as presidenciais.
Le Point, março de 2017 |
Vamos continuar discutindo se Lula foi ovacionado ou se recebeu ovadas. Ciro e Marina de um lado, Huck e Bolsonaro de outro.
Sobre quem pôr no congresso, ninguém se informa por conta própria. Acabamos votando em quem o marketing do candidato o faz chegar lindão até nós, ou em quem “fulano disse que é bom”. E em cima da hora.
Somos vítimas da falácia de desvio?
Claro. Como sempre.
Na democracia direta, o próprio povo vota as leis. Não há representantes de banqueiros a não ser os próprios banqueiros.
Um comentário:
Ótimo texto!
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