CÂNDIDO, PARA CRIANÇAS


Pollyanna é um clássico da literatura infantil norte-americana, escrito em 1913, por Eleanor H. Porter, que se inspirou no personagem Cândido, de Voltaire.

A menina da história aprendeu a sempre ver o lado positivo dos acontecimentos negativos. E assim também passou a aceitar ingenuamente as injustiças do mundo.

Somos às vezes muito parecidos com a Pollyanna.
O mundo poderia ter sido mais justo. Poderia ter dado a cada um dos países:

1. a possibilidade de cultivar qualquer tipo de plantio o ano todo, para que não houvesse fome em lugar nenhum.
2. grandes  rios, ventos fortes, muito sol e  solo fértil, e assim não dependeriam somente do carvão e do petróleo para ter a energia que move a vida e o trabalho.
3. muita água doce e salgada, de forma que a pesca fosse abundante.
4. florestas com imensa biodiversidade, para produzir todos os remédios possíveis.
5. variados tipos de subsolo e montanha, que oferecessem madeira e minério à vontade, e tudo pudesse ser construído sem depender de terceiros.
6. diversidade de povos, que pudessem conviver em paz árabes e judeus, negros e brancos, eslavos e germânicos, latinos e saxões, chineses, japoneses e coreanos.

O Brasil tem exatamente essa meia dúzia de bênçãos que a natureza nega a praticamente todos os países. Ser a oitava economia mais rica do planeta com todas essas vantagens naturais que possui não é mérito e sim demérito.

E por que o Brasil é um país violento e cheio de pobreza? Não sabemos votar. Por que não sabemos? A resposta é óbvia e simples: porque não investimos em educação básica.

Nossos adultos discutem, ingenuamente, como Pollyannas, sobre Marinas, Lulas e Bolsonaros, sem perceber que os bancos e os  conglomerados diversos a esta hora já decidiram -- em quase todos os partidos -- seus vários candidatos ao congresso, ou seja, os deputados e senadores que decidirão, estes sim, os destinos do país nos próximos anos.
Só a educação básica muda esse quadro, pois nós, adultos, já estamos deformados.

É só olhar em volta para perceber que somos todos mentirosos. Gostamos de dizer palavras sábias e parecer que é isso que defendemos. Mas todos nós -- mídia, pais e professores --  damos exemplos contrários ao que falamos. Admiramos as pessoas por suas posses, conversamos o tempo todo sobre carros e casas, e os que podem valorizam sobremaneira as viagens que fazem ou querem fazer pelo antigo circuito Elizabeth Arden (Paris-Londres-NY).

Somos muito pequenos. É preciso repetir: com nossos exemplos tanto de pais quanto de professores -- e é o exemplo o que vale -- ensinamos a nossa juventude que felicidade não é alcançar a tranquilidade de alma, um ideal de vida, estar em paz consigo mesmo, chegar a um estado de espírito pleno. Felicidade é ter, ter, ter e consumir, consumir,  consumir. Mostramos isso o tempo todo. O resultado é a brutal vontade de ter ou parecer ter, obsessão que gera uma violência que vai das ruas ao Palácio do Planalto.

Um dia deixaremos de ser Pollyannas.

Quando novos valores forem adquiridos pelos pequenos, eles vão decidir diretamente as leis. E pouco ou nada importará quem seja o presidente do país.

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