O NOVO NORMAL

 

Franz Hals, O flautista (Louvre)


Há um consenso: depois da pandemia, o mundo terá de conviver com novos hábitos. Máscaras, álcool gel e algum distanciamento farão para sempre parte de nosso cotidiano. O novo normal. 

E isso realmente vai acontecer. Até a chegada das vacinas, isso vai acontecer. Mas, sejamos realistas, é só até lá. Depois de vacinados todos (e a fila é longa), leva apenas um ou dois meses para até os mais desconfiados perceberem que só eles estão de máscara na rua.


Somos assim, tudo é definitivo até passar e deixar de ser.


A poesia, como a bater papo conosco, sempre nos lembrou disso. De Vinícius a Legião, o amor deve ser eterno enquanto dure e que se ame como se não houvesse amanhã. É sobre o amor, mas a arte deu o seu recado.


Franz Hals! Ninguém representou melhor a eternização do instante do que Franz Hals, pintor da era de ouro da escola holandesa, no século XVII. Seguidamente endividado, volta e meia vivia angústia terrível, até que aparecia algum nobre em seu socorro, sempre "pela última vez". Alegre, feliz, de novo com sua situação "definitivamente" resolvida, Hals voltava a pintar. Sua vida se refletia em suas obras: alguns retratos, por encomenda, eram pintados como figuras estáticas, estáveis. Já todos os demais eram flagrados em plena ação, retratados no momento, no instante eternizado. Era como ele vivia. E é como a maioria de nós vive, como ciganos. O que importa é a próxima dança. E isso é bom, é vida. Mas, em alguns casos, o preço é alto.


Franz Hals, Cigana (Louvre)


Os ciganos, quando o ambiente não é bom, mudam-se para outro lugar. Não podemos ser ciganos o tempo todo. A humanidade é apenas uma, ciganos e não ciganos. E todos só temos este planeta para habitar.


Não vemos além do momento atual.  Nosso alcance vai até ali, o tal palmo adiante do nariz, a pandemia, que é provisória. O desastre maior, definitivo e fatal, bate à porta e fingimos não ver. A cada gripe suína, aviária, Influenza tipo A, Vaca Louca, Ebola, Sars, Mers, H1N1, Zika, culpamos a causa imediata, a globalização, com seu comércio e deslocamentos, os hábitos alimentares, a China, a África, o macaco, o morcego. 


Enfim, olhamos para cada caso em particular como se fossem causas isoladas. Ignoramos as denúncias da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD), chamamos todos de comunistas e continuamos a destruir os ecossistemas originais para atender às necessidades sempre crescentes do mercado.


Não vai ter novo normal. Basta observar as aglomerações não só no Brasil e nos Estados Unidos, mas também em governos sérios como França e Alemanha. Em todo o mundo, a paciência se esgota dia a dia. Sim, a mudança de hábitos vai acontecer, mas noutra direção: aprendemos a usar mais os recursos da era digital que já estavam aí. Foi um bom treinamento. Só isso vai mudar.


É claro que o Covid-19 vai passar e todos vão tirar as máscaras. 


Mas, sejamos lúcidos: na sequência de Sars, Zika, Mers, H1H1, e Covid vão chegar os próximos vírus e afins, e é óbvio que algum deles será ainda mais letal.


E talvez não saia com água e sabão.





O HOMEM QUE RI


A vida não é senão uma longa perda
 daqueles que amamos (Victor Hugo)

Não. 
Não sou nem a cópia da sombra do palhaço Bozo de que todos debocham. 

Sou, sim, o Homem que ri.  Aquele que traz alegria e faz rir a todos os inocentes -- sejam crianças crianças, sejam crianças adultas -- e  representa a esperança dos nada inocentes que pensam como eu. Um terço do Brasil (e do mundo), tenha certeza, pensa como eu, embora na maioria do tempo fique em silêncio. Silêncio para fora e às vezes para dentro de si.

Os outros, todos os outros, ingenuamente apontam o dedo para mim e mostram a sua revolta. A cada vez que debocho deles, assustam-se e levantam o dedo. Faço isso toda vez, e rio. E eles de novo se assustam e levantam o dedo. Como crianças. Ainda não entenderam. Acham que basta apontar e dizer MAMÃE, ELE FEZ DE NOVO!. 

Mas a mamãe, meus caros, no máximo vai virar o rosto, mecanicamente, e dizer para não fazer mais isso, que é feio. Não há Maias, Tóffolis ou militares do executivo que queiram ou possam me pôr de castigo.

Não tenho cultura, não gosto de ler, tal como o barbudo, mas tive amigos cultos nas Agulhas Negras. Mourão era duas turmas acima, Braga Neto duas turmas abaixo, mas na minha própria turma tinha muita gente que lia. O Cid, o Mauro César Cid, que chegou a general, disse uma vez para eu ler O homem que ri, de um Victor Hugo, que tinha a ver comigo. Foi o único livro de literatura que li. Por causa dele, vi os filmes daí derivados, The Man Who Laughs, de 1928, horrível, mudo e preto-e-branco, e O Coringa, de agora, que não entendi. Pouca gente sabe que o malvadão dos desenhos da DC Comics foi inspirado no personagem do Victor Hugo. Eu me reconheço nesses coringas, até nesse último. Muita ação contida sob a máscara, a persona grega, do riso. 

Rio e debocho. Os dois terços do Brasil não vão me derrubar enquanto eu for interessante para os que comandam as forças econômicas fora do governo. Ou tem algum inocente que pensa que o Collor e a Dilma caíram por elbas e pedaladas? Uma saída minha atrasaria ainda mais as reformas que estão em andamento. Vivemos um hiato acidental, o do virus, e com um "coringa" no poder fica mais fácil o país tomar a decisão de soltar o gado, se for necessário sujar a canastra real da economia. 

Não sou nazista. Vejam como esse povo é idiota. Nunca um nazista desejaria se aproximar de Israel nem trocaria beijos com Netanyahu. Perseguir os judeus foi o maior erro de Hitler, pois em todos os lugares em que os judeus se fixaram criaram prosperidade e riqueza. Não sou nazista. Mas admiro a racionalidade dos nazistas para tomar decisões, sempre pensando no bem maior. Por isso pus o imbecil do Alvim na Cultura, mas aí o cara vai imitar um tal de Goebbels e queima o meu filme. A esquerda gritou, "Nazista! Miliciano!" Ora, as milícias são uma necessidade no Rio, assim como as S.A. foram em Munique e Berlim. Já falei disso na minha primeira carta (ver Carta não escrita, post deste mesmo blog). 

Mas vamos ao que não posso dizer:

Se encerrarmos o isolamento, pessoal, será melhor para todos, talkei? Observem os números:


Como podem ver, seria a hora de aqueles que estão já saindo da vida, ou por idade, ou por morbidez, dizerem a seus netos e filhos que pode ser, sim, que seja a hora de o vovô partir.

Rosenberg, o 3° à direita do Fürer
Alfred Rosenberg era nietzscheano, e foi o filósofo do Reich. Adorava a música de um tal de Wagner, como o Goebbels e o Alvim. Foi de Rosenberg a ideia de retirar de suas casas alemães doentes ou deficientes, levando-os para hospitais onde supostamente teriam estrutura e tratamento adequado. Meses depois um telegrama chegava aos familiares dando notícia de que, apesar dos esforços, o parente não havia resistido a uma pneumonia.

Horrorizados? Claro, todos somos emocionais, quando se trata de família. Mas o estadista não pode ser. Desde "O Príncipe" não pode ser. E Rosenberg tinha que ser racional. A solução beneficiava todo mundo: 

1) o Reich, que não teria gastos com pessoas que não eram mais produtivas; 
2) a família, que se desobrigava do peso de cuidar de alguém; 
3) o próprio internado, que saía de uma vida que não fazia mais sentido. 

Quem era prejudicado? Ninguém. A eutanásia era praticada em segredo pelo Estado, deixando a família emocionalmente conformada, crendo em morte natural.

Sou contra a eugenia, mas pensem, internamente, e com sinceridade: será que vale a pena sacrificar e prejudicar o futuro de tantos jovens para salvar uns poucos velhos que ainda insistem em ser um peso na vida de suas famílias? Eu mesmo, tenho mais de 60, tusso e me exponho. Se for, fui.

Dizem que com o relaxamento podem morrer mais de 500 mil. Mas serão pessoas que já não têm o que fazer aqui. Para os 208 milhões de brasileiros a vida vai seguir normal, sem essa prisão domiciliar.


Não, não sou um Bozo. O Bozo foi um palhaço, Bob Bell, que divertiu crianças americanas por muitos anos (no Brasil foi interpretado por José Vasconcellos e mais tarde por Pipoka). Eram só palhaços.

Minha personalidade representa algo bem mais sério e complexo. Talvez um Coringa.

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