UMA CARTA NÃO ESCRITA

Caravaggio, Medusa

Por que o espanto? 

Por que muitos me chamam de burro, boçal,  grosseiro, inconveniente? Por que pedem o meu impeachment, a minha interdição? 

Esses amam a democracia, eu jamais a quis. Justamente os que se dizem democratas querem romper com o resultado das urnas. Numa democracia o poder oscila, ora para a direita, ora para a esquerda. Mas não. Para esses, não. O poder não pode oscilar, a menos que seja entre uma esquerda e outra esquerda. 

Desejam o absurdo: que a direita (que venceu) governe com as ideias da esquerda. Quem é o burro? 

Sou um homem coerentíssimo e verdadeiro. Isso assusta as pessoas que estão acostumadas a líderes políticos que não falam o que pensam, dizem só o que acham que é conveniente um estadista dizer.

Acaso eu prometi alguma coisa diferente do que estou fazendo? 

Sempre defendi a ditadura militar, e considerei a tortura um mal necessário em certos contextos. Já disse mais de uma vez que a história da luta armada foi mal contada, com foco nas vítimas de apenas um dos lados. 

Por mim, fecharia o Congresso e acabaria com o Supremo. Nunca falei nada diferente disso.

Criticam e querem denunciar  meu apoio e minhas relações com as milícias. Não entendem nada de Rio de Janeiro. Os milicianos são um Estado paralelo fundamental para o equilíbrio das comunidades de onde o poder público se ausentou.

O que penso hoje dos homossexuais, do protagonismo de mulheres na sociedade, e do vitimismo dos negros? O mesmo que pensava antes. Jamais fui hipócrita. A minha visão da família, da moral,  vem há muito tempo alinhada com a de notáveis pastores que são meus amigos, mais conservadores. Podem rir o quanto quiserem do pé da goiabeira, mas a ministra vai continuar lá. É isso mesmo. Quer mais? Eu e meus filhos admiramos e seguimos, sim, as  ideias políticas e acadêmicas do professor Olavo de Carvalho. E daí? 

Nada disso foi novidade.

Enfim: nunca menti, não enganei ninguém. Foi dessa forma que por décadas consegui eleger a mim e a minha família. E é dessa forma que continuaremos a ser eleitos quando tudo isso acabar.

Se o que digo choca muitos brasileiros, é sinal de que vai empolgar o meu eleitorado fiel. E eu não sou burro de tentar agradar a uma maioria que me despreza e decepcionar aqueles que se identificam comigo.

Doido, tosco, idiota? Se alguém está de bobo nessa história, meu caro, esteja certo: esse cara não sou eu.


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