DEMOCRACIA DIRETA VIA DIGITAL E OS EXCLUÍDOS


Esses primeiros passos de democracia direta via digital não tornariam os pobres ainda mais excluídos? A tendência não seria que os incluídos digitalmente votassem leis que apenas os beneficiassem, esquecendo-se daqueles que nem têm acesso a computador?
Na verdade, na tentativa de evitar mudanças no atual jogo de poder, esse vai ser o principal argumento daqueles que se beneficiam economicamente da corrupção no Congresso. Quando foi assinada a Lei do Ventre Livre, em 1871, o então deputado José de Alencar, conservador e escravocrata, disse na tribuna que a Lei tornava os que permaneciam escravos mais escravos ainda. Houve quem concordasse, mas só os ingênuos não enxergavam que a libertação estava a caminho.
Pode-se entender isso numa simples equação de lógica: o fato de uma parcela da população, cerca de 15 milhões de lares hoje no Brasil, ganhar a alternativa de votar as leis diretamente não prejudica os que ainda não poderão fazer isso. Aqueles que continuarão a depender de seus deputados sempre dependeram deles (e por isso estão como estão). O ensino superior ainda hoje também só é acessível a uma elite, aquela pequena parcela da população que terminou o colegial. Negar as universidades ou fechá-las sob o argumento de que os conhecimentos ali adquiridos serão usados em proveito dessa própria elite não resolverá a exclusão social. Ao contrário, a partir delas é que se tem a certeza de que o caminho certo para combater as injustiças é ampliar o acesso à educação.
A inclusão digital é uma tendência irreversível em todo o país (virá até por TV), e na medida em que isso significar a ampliação dos direitos de cidadania, aumentará a pressão dos setores progressistas para acelerar mais e mais esse processo. A transferência gradual do poder, das mãos dos deputados para as mãos da população, passa a ser visível e previsível. Manter permanentemente esse poder nas mãos daqueles que não nos representam só interessa, é claro, àqueles que podem corrompê-los para que fique tudo como está.

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