AS CRIANÇAS DE IZIEU

Klaus Barbi

No próximo dia três de julho, trinta anos serão passados da condenação à pena perpétua de Nikolaus (Klaus) Barbi, o açougueiro de Lyon. O julgamento parou a cidade. Na verdade, parou toda a França, que não se emocionava tanto com tribunais desde o caso Dreyfus, um século antes.
Klaus, comandante da Gestapo na cidade francesa entre 1942 e 1944, transferiu para Auschwitz 44 crianças judias, ao abandonar a cidade prestes ao já iminente desembarque das tropas aliadas.
Cumpriu as ordens, e a lei vigente que considerava válida a solução final, o extermínio de todos os judeus.  A guerra já estava perdida, mas ele foi corajoso e ético com os seus superiores até o fim. Foi fiel a eles e mostrou ser digno da confiança daqueles que o nomearam.
Corajoso. E digno de confiança.


Crianças de Izieu

Nós também ainda somos assim.
No passado, era o grande juiz do Supremo,  Manoel Caetano de Almeida e Albuquerque, a mandar caçar os negros fujões no Brasil Imperial. Estava aplicando a lei e sendo digno de seu cargo.
Hoje são os discípulos do jurista Márcio Thomaz Bastos que deixam pessoas boas na miséria para cobrar mais riqueza para os bancos. Estão amparados na lei e sendo dignos de seus cargos.
As leis não são feitas com a participação dos que são afetados por elas, e sim por pequenas oligarquias que legislam conforme seus próprios interesses. E essas oligarquias fazem todos crer, e cobram isso, que precisamos manter nosso Estado de Direito.


Gilmar Mendes

Não há motivo para espanto diante dos quatro votos a três pela manutenção do mandato de Michel Temer. Esses quatro juízes foram apenas corajosos e fiéis a seus comandantes. E cumpriram a lei, passível de interpretação, considerando a delação da Odebrecht como superveniente ao processo.
Ingênuo quem pensa na independência do judiciário. Ingênuo quem pensa no caráter neutro ou protetor da lei.

Enquanto não for a própria população a votar diretamente as leis, tudo será apenas um espetáculo circense, um show para apupos ou aplausos de uma plateia marcada pela ingenuidade.



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